Estudo recente questionou a mamografia para o diagnóstico precoce de câncer de mama antes dos 50 anos, mas a validade do exame é reconhecida pelos especialistas brasileiros. Entenda quais os exames que garantem o diagnóstico precoce e quando é preciso começar a se preocupar em avaliar a saúde das suas mamas.
A matéria abaixo foi publicada pela Revista Boa Forma e pelo site M de Mulher em julho de 2014. A Femama (Federação de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama) comentou algumas das respostas divulgadas, a fim de dar um panorama mais amplo sobre as possibilidades de diagnóstico.
1. O que é mamografia?
É o exame-padrão para o diagnóstico de câncer de mama. Permite detectar o tumor em fase inicial, quando mede milímetros e ainda não é palpável. Na mamografia analógica, o seio é comprimido e exposto aos raios X. São tiradas duas chapas (frente e lateral) e as imagens gravadas em um filme. Os equipamentos digitais dispensam os filmes: as imagens são mostradas na tela de computador. No Brasil, a maioria dos aparelhos é analógica.
2. Quando a mamografia de rotina deve ser iniciada?
O Instituto Nacional do Câncer (Inca) recomenda que ela seja feita a cada dois anos, dos 50 anos aos 69 anos – faixa de maior incidência de câncer de mama. Mas organizações como a Sociedade Brasileira de Mastologia, a Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), o Colégio Brasileiro de Radiologia e a Femama (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama) defendem a mamografia anual a partir dos 40 anos.
3. Antes dos 40 anos, que exames são aconselhados?
O autoexame mensal e a palpação anual pelo ginecologista. Caso se perceba alguma alteração, como presença de caroço, retração de pele não associada à inflamação, mudança no formato, na textura ou no tamanho do seio, inversão do mamilo ou saída de secreção, o médico pode solicitar uma mamografia. Daí não se trata de exame de rastreamento, mas de diagnóstico, em busca de explicações para a modificação observada.
FEMAMA: O autoexame é importante para que a mulher conheça melhor o seu corpo e tenha facilidade em perceber alguma alteração nas mamas. Caso isso ocorre, ela deve procurar seu médico rapidamente, pois apenas ele poderá diagnosticar a doença. Para isso, ele poderá solicitar exames complementares, podendo ou não ser uma mamografia. Apenas 20% dos nódulos encontrados nas mamas correspondem a tumores cancerígenos. O exame clínico anual pode ser realizado pelo ginecologista ou pelo mastologista.
4. E se houver histórico de câncer de mama na família?
Cerca de 90% das mulheres que desenvolvem esse tumor não têm ninguém na família com o mesmo problema. Só em 10% é hereditário, mas considera-se alto o risco de câncer de mama quando um ou mais parentes em primeiro grau tiveram a doença, em especial se aparecer antes da menopausa. Nesse caso, a indicação é iniciar a avaliação dez anos antes da idade em que o câncer de mama surgiu no familiar. Pode, inclusive, ser indicado o teste genético, em busca de mutações que predisponham ao câncer. De acordo com o mastologista José Luis Esteves Francisco, presidente da Comissão de Imaginologia da Sociedade Brasileira de Mastologia, ele apresenta pelo menos dois inconvenientes: o custo alto e, se der positivo, o risco de o tumor se apresentar pode chegar a 85%, por isso a mulher deve estar preparada para investir em medidas de prevenção e às vezes adotar atitudes mais drásticas, como a mastectomia profilática (retirada das mamas).
FEMAMA: O exame para avaliar a disposição genética da mulher desenvolver o câncer de mama é o que busca a existência de mutações nos genes BRCA1 e BRCA2, que aumentam muito as chances de se desenvolver o câncer de mama e de ovário. A Femama é proponente de projetos de lei para incluir o exame no SUS, hoje disponível para pacientes com plano de saúde. A possibilidade de realização deste exame permite que os médicos caracterizem corretamente uma paciente como sendo de alto risco e atuem de forma mais consciente ao optar pela realização de mastectomias profiláticas, de acordo com a probabilidade de desenvolver o câncer indicada no exame e não apenas baseado no histórico familiar da paciente. Ter conhecimento antecipado sobre a probabilidade de desenvolver a doença e ter a chance de agir com o tratamento mais adequado antes de colocar a vida em risco com o avança do câncer de mama é uma vantagem para a paciente, e não um inconveniente do exame.
5. Por que a mamografia aperta tanto os seios?
“Para separar as estruturas internas e torná-las mais visíveis”, explica a radiologista Selma de Pace Bauab, membro da Comissão Nacional de Mamografia e da Sociedade Brasileira de Mastologia. A sensação dolorosa costuma ser maior no período pré-menstrual porque os seios ficam mais sensíveis. É melhor marcar o exame para depois da menstruação.
6. É verdade que a mamografia não é o melhor exame para quem tem mamas densas?
Segundo Francisco, a pesquisa sempre começa com a mamografia, mas, em mulheres com mamas densas e mais fibrosas, a visibilidade não é boa. Nesses casos, é comum solicitar a ultrassonografia como complementação. Esse exame permite diferenciar nódulos líquidos e sólidos (os últimos podem ser malignos) e ver tumores não observados na mamografia.
7. A ressonância magnética não seria a melhor opção?
Esse método, que capta imagens tridimensionais dos seios, não é solicitado como rotina. “O exame demora de 30 a 40 minutos, tem custo alto e poucos serviços dispõem da bobina específica para estudar as mamas”, diz o mastologista. Fora isso, a ressonância identifica alterações mínimas que podem levar a biópsias desnecessárias. É indicado quando já há o diagnóstico de câncer para observar mais detalhes e programar melhor o tratamento.
8. A mamografia reduz a mortalidade por câncer?
Há estudos feitos na Suécia que mostram uma queda de 15 a 30% na mortalidade. Já no trabalho publicado no Brittish Medical Journal, a redução foi de apenas 8%. Os pesquisadores canadenses acompanharam 90 mil mulheres entre 49 e 59 anos durante 25 anos e concluíram que um em cada cinco casos de câncer de mama diagnosticados pelo exame durante o estudo não representava uma ameaça à saúde, portanto não precisaria ser combatido com cirurgia, quimioterapia ou radioterapia. É o que os especialistas chamam de “overdiagnose”, isto é, diagnóstico exagerado. “De fato, nem todo câncer descoberto no início evolui de modo lesivo”, diz José Luis Esteves Francisco. “O problema é que não temos um marcador definitivo que nos diga qual vai ficar naquele estágio e qual vai evoluir e destruir a mama. Às vezes, tumores pequenos podem ser muito agressivos. Na dúvida, removemos e tratamos.”
FEMAMA: A mamografia é o exame mais eficiente para se realizar o diagnóstico precoce do câncer de mama no Brasil. Os dados sobre o impacto do exame na redução da mortalidade pela doença em estudo canadense citados acima referem-se apenas à realização do exame em mulheres entre 40 e 49 anos de idade, em comparação com mulheres com 50 a 69 anos. Mesmo nessa faixa, no entanto, a Femama e muitas associações médicas sérias defendem o início do tratamento a partir dos 40 anos, pois não existem estudos que garantam que deixar de realizar esses exames no Brasil em mulheres entre 40 a 49 anos não resultaria em aumento da mortalidade pela doença. A realidade de acesso à tratamento em nosso país é diferente da canadense, ressalva feita pelo próprio estudo. Lembrando que a realização de mamografia para diagnóstico precoce no Brasil a partir dos 40 anos é um direito das mulheres garantido por lei.
9. É importante a mulher dizer que tem silicone?
Sim. A prótese pode dificultar a visualização de tumores. “Mas existem manobras que aumentam o campo de visão na mamografia”, diz Selma. A primeira parte do exame é igual e, na segunda, o técnico empurra a prótese e comprime apenas o tecido mamário.
10. O que pode ser feito para a doença ser prevenida?
O principal é manter uma boa qualidade de vida: ter uma alimentação saudável, fazer exercícios regularmente, evitar bebida alcoólica e fugir dos quilos a mais, em especial depois da menopausa. A maternidade protege contra esse tumor se a mulher tiver filhos antes dos 35 anos de idade e amamentá-los.
FEMAMA: Eliminar os fatores que aumentam o risco de desenvolver o câncer de mama é uma forma válida de praticar o autocuidado. Com práticas saudáveis é possível reduzir a probabilidade de se desenvolver a doença. No entanto, mesmo mantendo esses hábitos, as mulheres ainda estão sujeitas a desenvolverem a doença. O câncer de mama, assim como os demais tipos de câncer, é resultado de mutação genética, que pode ser herdada ou, o que ocorre na grande maioria dos casos, espontânea. Uma mutação espontânea pode ocorrer em uma célula do corpo ao longo da vida e ocasionar a doença, no entanto não se sabe com precisão se essas mutações ocorrem devido ao estilo de vida, alterações químicas no corpo da mulher ou à exposição a toxinas no ambiente, por exemplo. É por isso que, em se tratando de câncer de mama, é preferível falar em diagnóstico precoce que em prevenção. A realização regular de exames deve estar entre as boas práticas para se reduzir o risco de mortalidade por câncer de mama.
Matéria de Cristina Nabuco publicada na Revista Boa Forma e no Site M de Mulher em julho/2014 com comentários da FEMAMA (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama).