Você sabia que o câncer de mama é o tipo de câncer mais comum entre as mulheres brasileiras e do mundo todo? E em dados gerais, ele fica atrás apenas do câncer de pele não-melanoma e, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), no último ano a estimativa é de que foram diagnosticados 59.700 novos casos de câncer de mama no Brasil.
Apesar desse cenário, também temos boas notícias para quem convive com a doença. De acordo com dados do INCA, em tumores iniciais de mama existe uma boa taxa de cura quando diagnosticado precocemente. Aliado a isso, existem novos tratamentos para câncer de mama inovadores que estão chegando no mercado.
E uma das mais recentes possibilidades de tratamento são os inibidores de CDK, que após estudos e testes, estão sendo aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) desde 2018. Por isso, neste artigo, vamos explicar o que são os inibidores de CDKs e qual o impacto desse tratamento no câncer. Vamos lá?
Os CDKs e o câncer de mama
As cinases dependentes de ciclina (CDKs) desempenham papel essencial na regulação da progressão do ciclo celular, permitindo a transição entre diferentes fases. Sua ativação depende de moléculas que são sintetizadas e degradadas durante o ciclo celular – as ciclinas.
Como reguladoras do ciclo celular, sua inibição garante que células doentes não entrem em divisão celular, evitando assim que se proliferem e morram, quebrando um ciclo de crescimento tumoral.
Para tratar essa condição, é preciso fazer a utilização de uma terapia-alvo conhecida como inibidora de CDK. Este tratamento interrompe a atividade de enzimas promotoras de células cancerosas conhecidas como quinases dependentes de ciclina 4/6 (CDK 4/6).
Por enquanto, temos três medicamentos que atuam com este objetivo disponíveis no mercado.
Os inibidores das enzimas CDK4 e CDK6 são utilizadas para o tratamento do subtipo mais comum de câncer de mama, chamado HR+/HER2- (receptor hormonal positivo/receptor do fator de crescimento epidérmico humano 2 negativo).
Entre os inibidores já temos três aprovados pela ANVISA: o Palbociclibe, o Abemaciclibe e o Ribociclibe. Conheça mais sobre cada um deles:
Palbociclibe
Estudos sobre câncer de mama receptores hormonais positivos/Her-2 negativo levaram à aprovação do Palbociclibe em primeira e segunda linha metastática nesses subtipos de tumores. O Palbociclibe é outro exemplo desta classe terapêutica, um inibidor de quinase de múltiplas ciclinas (CDK4/6), que associado à hormonioterapia (letrozol ou fulvestranto), em primeira e segunda linha metastática nesses subtipos de tumores, que demonstrou excelentes taxas de controle tumoral e mais do que duplicou o tempo de vida livre de doença. O Palbociclibe já está aprovado nos EUA desde fevereiro de 2015 e foi aprovado no Brasil pela ANVISA em 2018.
Abemaciclibe
Lançado nos Estados Unidos em 2017 e aprovado na Europa e no Japão em 2018, o Brasil é o primeiro país da América Latina a contar com esta nova opção terapêutica. O tratamento oral é indicado em combinação com um inibidor da aromatase como terapia endócrina inicial, em combinação com fulvestranto como terapia endócrina inicial ou após terapia endócrina, no cenário de doença avançada/metastática. Também pode ser administrado sozinho, após progressão da doença depois do uso de terapia endócrina e quimioterápicos anteriores para doença metastática.
A segurança e eficácia de abemaciclibe como tratamento autônomo foram analisadas em um estudo com 132 pacientes com câncer de mama HR+ para HER2- que progrediu após tratamento com terapia endócrina e quimioterapia após o câncer ter se tornado metastático. O estudo mediu o percentual de pacientes cujos tumores diminuíram total ou parcialmente após o tratamento.
Ribociclibe
O inibidor de CDK4/6 ribociclibe é também outro representante desta nova classe de medicações. Ele pode ser usado em pacientes com Câncer de mama metastático HR+/HER2- associado a inibidor de aromatase ou fulvestranto, em 1ª e 2ª linhas. No caso da combinação com tratamento endócrino convencional melhorou significativamente a sobrevida global de mulheres mais jovens com câncer de mama avançado positivo para receptor hormonal (Rh+) em comparação com o tratamento endócrino isolado. Os resultados são frutos dos estudos da Dra. Sara Hurvitz, médica e diretora do Breast Cancer Clinical Research, UCLA Jonsson Comprehensive Cancer Center, em Los Angeles.
O tratamento com ribociclibe em associação com terapia endócrina em mulheres na pré menopausa mostrou melhorar significativamente a sobrevida global neste cenário de doença metastática HR+/HER2 negativo. A estimativa da taxa de sobrevida global em 42 meses foi de 70,2% para as mulheres no grupo do tratamento de combinação versus 46% para as mulheres no grupo de tratamento endócrino isolado. O ribociclibe está aprovado no Brasil desde julho de 2018.
Os inibidores de CDK no Brasil
Atualmente, os três medicamentos citados anteriormente já estão registrados pela ANVISA e podem ser comercializados em território nacional. Inclusive, pacientes de câncer já podem fazer uso das medicações para proporcionar aumento de sobrevida livre de progressão. No entanto, possui acesso dificultado/limitado na saúde suplementar por ainda não constar no rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) por ser uma droga oral que tem uma legislação diferente. Se fosse injetável, uma vez aprovado pelo Ministério da Saúde e ANVISA, a cobertura seria imediata.
Por isto, no que se refere à distribuição destas medicações hoje em dia, eles ainda não encontram-se disponíveis para planos de saúde e nem para o Sistema Único de Saúde (SUS).
No que diz respeito aos planos de saúde, ainda existe a complicação de que a lista de medicações que compõem a lista obrigatória da ANS só é atualizada de 2 em 2 anos. Em outras palavras: haverá revisão apenas em 2020, com chance da entrada destes medicamentos para a lista a partir de 2021.
Para incorporação no SUS de modo universal, ainda é necessário que haja uma submissão de pedido na Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC) para que o órgão possa avaliar e fazer uma recomendação favorável ou desfavorável ao Ministério da Saúde sobre a inclusão deles no rol do SUS. Normalmente, os responsáveis por essa submissão são os próprios laboratórios fabricantes.
Por essa razão, a FEMAMA coloca os inibidores de CDK na pauta da discussão e defende que esses tratamentos fiquem disponíveis e acessíveis, tanto nos planos de saúde quanto no SUS. Dessa forma, reforçamos nosso compromisso com o acesso a novos tratamentos e a defesa dos direitos de pacientes por meio do nosso trabalho em advocacy no Brasil.