Como um dos maiores fatores de risco para o câncer é a idade, a campanha de vacinação para a Covid-19 no Brasil beneficiou muitos pacientes com essa doença desde o começo. E agora que certas comorbidades estão entrando no calendário de imunização, mais uma leva de pacientes oncológicos terá acesso às doses contra o coronavírus.
Diante disso, as dúvidas sobre as vantagens e os riscos das vacinas entre indivíduos que tiveram ou têm tumores se multiplicaram. Confira a resposta para sete perguntas comuns sobre o assunto:
1. Quem tem câncer faz parte do grupo prioritário da campanha de vacinação?
O câncer em si não foi considerado uma comorbidade pelo Ministério da Saúde, quando foram definidos os grupos prioritários para receber a vacina contra o coronavírus. Desde então, entidades médicas e de pacientes criticaram a decisão, já que a presença de um tumor foi associada a complicações da Covid-19.
Um estudo realizado pelo Grupo Oncoclínicas, publicado no periódico científico da Sociedade Americana de Oncologia Clínica mostra que o risco de morte decorrente do Sars-CoV-2 nessa turma é de 16,7%, um número acima da taxa global (2,4%).
De qualquer jeito, certos pacientes entraram na lista de prioridades por serem considerados imunossuprimidos, uma comorbidade que foi contemplada pelo governo. São eles:
Indivíduos que fizeram transplante de órgão sólido ou de medula óssea Pessoas que realizaram tratamento quimioterápico ou radioterápico nos últimos seis meses Pacientes com cânceres hematológicos (leucemias, mieloma múltiplo, linfomas)
Esse pessoal pode consultar a agenda de imunização da sua cidade para portadores de comorbidades. E, como dissemos antes, muitos sujeitos com um tumor tiveram acesso às doses por causa da idade. Alguns postos vinham pedindo um atestado a eles, mas abordaremos isso em detalhes na quinta pergunta.
2. Ter câncer é uma contraindicação para a vacina?
Não. De acordo com a mastologista Maira Caleffi, presidente voluntária da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), todos os imunizantes disponíveis contra o coronavírus até o momento não apresentam riscos e são indicados para quem está com essa doença.
“Só é importante destacar que cada paciente possui características únicas e respostas diferentes ao tratamento. Então é sempre bom conversar com o médico responsável a respeito”, complementa.
O oncologista Bruno Ferrari, presidente do Conselho de Administração do Oncoclínicas, concorda que a orientação profissional é sempre uma boa pedida, porém destaca que isso não pode servir de desculpa para dispensar as picadas. “Se houver a possibilidade, fale com o médico. Mas de modo geral dizemos: vá se vacinar”, tranquiliza.
3. Quem está em tratamento pode tomar a vacina?
A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc) recomenda aplicar o imunizante antes de iniciar qualquer terapia, seja quimio, radio ou imunoterapia. Se isso não for possível, vale buscar sua dose mesmo durante o tratamento.
“O benefício se sobrepõe a um eventual pequeno risco”, pontua Ferrari.
4. Pessoas transplantadas devem se vacinar?
Para os indivíduos que precisam de um transplante de medula óssea ou de algum órgão, há uma sugestão de evitar a vacina apenas imediatamente antes ou depois do procedimento. Embora seja uma especulação, é possível que as doses sejam menos eficazes se recebidas nessa fase.
“Durante o período de preparação e após a recuperação, dá para a vacinação acontecer normalmente”, afirma Ferrari.
5. É preciso levar uma prescrição autorizando a vacinação?
O Ministério da Saúde exige que portadores de comorbidades apresentem documentos de um especialista que comprovem a presença da doença. E há outra uma norma dizendo que pacientes com câncer necessitam do aval por escrito de um médico, mesmo que já tenham a idade mínima para tomar as injeções contra a Covid-19.
Verdade que, nos pacientes que iam aos postos receber suas doses por causa da faixa etária, nem sempre o agente de saúde perguntava se eles haviam sido diagnosticados com um tumor em algum momento da vida. Mas agora que o calendário da campanha de vacinação do coronavírus está chegando aos grupos com comorbidades, essa exigência deve se tornar mais comum.
Ou seja, não importa se o indivíduo com câncer vá para o postinho por causa da idade ou por se encaixar naquele grupo dos imunossuprimidos que citamos antes, ele provavelmente precisará da comprovação do diagnóstico e de uma prescrição médica.
A Femama se posicionou contra a exigência dessa autorização médica, já que não é o momento mais fácil para pessoas serem atendidas por seus especialistas na rede pública. A fila de espera para uma consulta, que normalmente já é grande, aumentou devido à sobrecarga do sistema de saúde.
6. Quem teve câncer de mama pode tomar a injeção em qualquer um dos braços?
Ferrari explica que mulheres que realizaram o esvaziamento axilar — uma cirurgia de retirada dos gânglios da axila para tratar tumores da mama — devem, dentro do possível, evitar manipulações no braço afetado.
Isso se resolve dando a picada no outro braço. “Todas que fazem a cirurgia já são orientadas a isso. Caso o esvaziamento tenha sido feito dos dois lados, a vacinação deve ocorrer mesmo assim, em um dos braços”, garante o especialista.
7. As reações adversas são piores nos portadores de câncer?
Como não foram incluídos pacientes com câncer nos estudos que avaliaram os imunizantes, não havia como saber se os efeitos colaterais seriam mais intensos nessa população.
Conforme a vacinação foi se espalhando pelo mundo — inclusive entre os pacientes oncológicos — os médicos foram ganhando confiança. “Até o momento, não existe evidência de reações mais intensas neles”, informa Maira.
Os benefícios da vacina são certamente maiores que quaisquer riscos mínimos de tomá-la. Se você estiver passando por um momento delicado do tratamento, converse com seu especialista.