O corpo humano está diariamente exposto aos mais variados tipos de ameaças biológicas, como bactérias e vírus, e por esse motivo conta com mecanismos de defesa para se proteger, o chamado sistema imunológico. Ele é o responsável por localizar micro-organismos e células estranhas e potencialmente ameaçadoras para o organismo e eliminá-las, sendo essencial para o combate de diversas enfermidades. Porém, o sistema imunológico não é infalível e doenças, como o câncer, conseguem driblá-lo. Mas uma técnica inovadora promete fortalecer o sistema e guiá-lo para combater o câncer.
Eleita pela Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) como o maior avanço contra o câncer em 2017, a imunoterapia, mais especificamente em sua forma mais recente, a imunomodulação aplicada à oncologia, é um tratamento inovador, mas que ainda está em desenvolvimento. A terapia consiste na modulação (ou regulação) do sistema imunológico para potencializar a capacidade do corpo de enfrentar enfermidades.
Isso é possível através do uso de substâncias que estimulam as defesas naturais do corpo de uma forma geral e ou ajudam a identificar as células cancerígenas e a reagir contra elas. O tratamento inclui a aplicação de diferentes medicamentos de maneira intravenosa (nas veias) ou subcutânea (abaixo da pele).
As técnicas utilizadas atualmente para o combate ao câncer, como quimio e radioterapia, seguem o caminho inverso. Elas utilizam medicamentos que atingem o tumor, evitam sua proliferação e o destroem. Porém, nesse processo estes tratamentos também prejudicam as células saudáveis, já que não conseguem diferenciá-las das cancerígenas. Isso acaba gerando alguns efeitos colaterais, como a queda de cabelo, ferida na boca, náusea, entre outros.
Como a imunoterapia atua contra o câncer?
Uma das características do câncer, que o torna tão difícil de ser combatido, é a sua capacidade de enganar o sistema imunológico. Sem identificá-las como ameaças, o sistema imunológico permite que as células doentes se proliferem, possibilitando o desenvolvimento dos tumores e, em alguns casos, sua disseminação pelo organismo. A nova imunoterapia, ou imunomodulação, está construindo um novo ramo na oncologia, a imuno-oncologia, que busca reverter isso, ensinando o corpo a identificar essas células como ameaças ou ainda fornecendo mecanismos mais eficazes para combatê-las.
A imunoterapia pode atuar, portanto, marcando as células cancerígenas para guiar o sistema imunológico até elas, ou utilizando recursos que aumentam a capacidade do corpo de combatê-las. Além disso, ela pode ser associada com as formas de tratamento já empregadas, como as terapias-alvo, quimioterapias e radioterapia. Como ativam o sistema imunológico, em geral, as imunoterapias são empregadas para o uso em populações com diagnósticos variados, mas a imunoterapia também pode ser personalizada à biologia individual do tumor de cada pessoa. Por isso, um mesmo medicamento pode ser utilizado para muitos diagnósticos e situações clínicas diferentes.
Historicamente a imunoterapia precede o desenvolvimento da quimioterapia. Existem formas de imunoterapia que fazem uma estimulação inespecífica do sistema imunológico, como o BCG, o interferon e as interleucinas. Numa fase seguinte, desenvolveram-se anticorpos monoclonais contra alvos tumorais específicos, e estimulação direta de células do sistema imunológico, que hoje já fazem parte do arsenal terapêutico contra vários tipos de cânceres, sendo utilizadas em alguns casos de câncer de mama, de pulmão, melanoma, sarcomas, câncer de bexiga, de células renais, colorretal, neoplasias hematológicas (linfomas, leucemias e mieloma). É importante ressaltar que, embora com diversas indicações já aprovadas, a imunoterapia ainda está em fase de estudos clínicos que ampliam seu uso.
Nesse cenário é que surge uma nova modalidade de imunoterapia, onde o alvo deixa de ser diretamente o tumor, passando a modular a resposta imune do organismo, sendo assim, denominadas imunomodulação. Essa é uma área nova e é importante ressaltar que, embora com várias indicações já aprovadas, ainda estão sendo realizados inúmeros estudos para consolidar e ampliar suas indicações, sendo necessário aguardar os resultados das pesquisas sobre sua eficácia, segurança e viabilidade econômica.
Este é o primeiro texto de uma série explicando sobre a imunoterapia e sua aplicação no tratamento do câncer. Nos próximos textos, abordaremos os tipos de imunoterapia, sua aplicação no câncer de mama, chances de sucesso, estudos e desafios.
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*Este conteúdo teve contribuições e revisão de Dr. Ricardo Caponero, Presidente do Conselho Técnico-Científico da FEMAMA