
A imunoterapia consiste na estimulação do sistema imunológico para potencializar a capacidade do corpo de enfrentar enfermidades – como abordamos na semana passada. O tratamento pode ter dois objetivos: fortalecer o corpo para combater as células doentes ou marcá-las para que o corpo as identifique como ameaças.
Existem diversos tipos de imunoterapia e sua classificação varia a partir de sua atuação no organismo ou dos medicamento utilizados. Levando em conta sua forma de atuação, ela pode ser classificada como ativa ou passiva, e específica e inespecifica.
- Imunoterapia ativa: projetada para atuar no próprio sistema imune com substâncias estimulantes e restauradoras da função imunológica (imunoterapia inespecífica) ou com vacinas de células tumorais (imunoterapia específica).
- Imunoterapia passiva ou adaptativa: projetada para atuar no tumor com anticorpos antitumorais ou células mononucleares exógenas, com o objetivo de proporcionar capacidade imunológica de combate à doença.
No tratamento do câncer com imunoterápicos, os principais tipos de substâncias utilizadas são os anticorpos monoclonais, transferência de células adotivas, citocinas, vacinas, BCG e, mais recentemente, os imunomoduladores. Abaixo explicamos um pouco sobre cada um deles.
- Anticorpos Monoclonais – São medicamentos que auxiliam o corpo a identificar as células cancerígenas. Os anticorpos são produzidos em laboratório para se ligar a um alvo específico nas células tumorais e podem provocar tanto uma resposta imune que destrói as células cancerosas, como marcá-las, facilitando ao sistema imunológico encontrá-las. Essa técnica também pode ser denominada como terapia alvo.
- Transferência de Células Adotivas – É um tratamento que aumenta a capacidade do corpo de combater o câncer e atua fortalecendo as células T, um tipo de células brancas do sangue que são parte do sistema imunológico. Isso pode ser feito em duas etapas: (1) com a coleta das células T citotóxicas do paciente que invadiram o tumor (os linfócitos de infiltração tumoral), seu cultivo em laboratório e posterior reinjeção no corpo;(2) após a coleta das células T elas são modificadas geneticamente para expressar proteínas híbridas denominadas receptores quiméricos de antígenos, os CARs. Elas permitem que as células modificadas se fixem na superfície das células cancerosas, fazendo com que as células T não modificadas as ataquem.
- Citocinas – O tratamento com citocinas busca regular ou estimular uma resposta do sistema imunológico ao câncer. As citocinas são proteínas de sinalização produzidas pelas células brancas do sangue, elas atuam na comunicação entre as células durante a resposta imune do corpo. No tratamento elas são utilizadas para a ativação de células específicas ou para aumentar a resposta do corpo contra o câncer. Os dois principais tipos de citocinas utilizados no tratamento do câncer são os interferons e as interleucinas.
- Vacinas – O uso de vacinas também faz parte da imunoterapia, porém elas são bem diferentes das utilizadas para a prevenção de doenças. Em geral, são produzidas a partir das próprias células tumorais do paciente ou de substâncias coletadas a partir de células tumorais. Seu propósito é tratar cânceres "estabelecidos” fortalecendo as defesas naturais do organismo contra a doença. As vacinas podem ter como objetivo: retardar ou impedir o crescimento de células cancerosas; reduzir o tamanho de tumores; prevenir recidivas da doença; eliminar células cancerígenas remanescentes de outras formas de tratamento. Esse é um campo muito amplo de estudos. Algumas vacinas foram testadas na prevenção do câncer, mas os resultados não foram satisfatórios. No entanto, um campo de comprovada eficácia, é a vacinação contra agentes biológicos associados ao desenvolvimento de cânceres, particularmente o vírus do papiloma humano (HPV) – associado aos câncer de colo uterino, canal anal, orofaringe, etc.- e o vírus da hepatite (associado ao câncer de fígado).
- BCG – O Bacilo Calmette-Guérin (BCG) também é um tratamento imunológico. Normalmente utilizada como vacina para a prevenção da tuberculose, a BCG pode ser utilizada para tratar o câncer superficial da bexiga. Para isso ela é aplicada diretamente na bexiga através de um cateter, provocando uma resposta imune contra as células cancerosas. A BCG já foi estudada em diversos outros tipos de câncer, mas sua efetividade foi superada por métodos mais modernos de tratamento. Hoje a indicação se restringe ao carcinoma superficial da bexiga.
- Imunomodulação – Consiste no uso de substâncias que modulam diretamente o sistema imunológico, sendo dirigidas a alvos que não obrigatoriamente estão no tumor. A imunomodulação é uma parte mais nova da imunoterapia. O nome “imunomodulação” foi criado para distinguir a terapia alvo de um tipo de imunoterapia cujo alvo são os sistemas de regulação da resposta imunológica (por isso "modulação"). Desse modo, o ataque ao tumor acontece de forma indireta.
Resposta ao tratamento
Como já apresentamos, os estudos sobre imunoterapia no tratamento de alguns tipos de câncer estão em franco desenvolvimento e seus resultados não podem ser considerados definitivos. Alguns estudos apontam que apenas 20% a 30% dos pacientes respondem aos tratamentos de imunoterapia, dependendo da população dos pacientes e dos tipos específicos de câncer envolvidos.
A expectativa é que com o tempo as pesquisas apontem métodos mais eficazes de identificar quem são as as pessoas que mais se beneficiam e em quais condições as neoplasias respondem ao tratamento.
Este é o segundo texto da série sobre a imunoterapia e sua aplicação no tratamento do câncer. Nos próximos textos, iremos abordar sua aplicação no câncer de mama e a situação da imunoterapia no Brasil.
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*Este conteúdo teve contribuições e revisão de Dr. Ricardo Caponero, Presidente do Conselho Técnico-Científico da FEMAMA