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Por que existem tantas diretrizes para mamografia?

A partir de que idade e com que frequência uma mulher deve fazer mamografia, exame voltado à detecção precoce do câncer de mama? É uma pergunta simples. A resposta, porém, varia bastante conforme a fonte consultada. Essa situação, que pode deixar muitas mulheres confusas, voltou a ganhar destaque nos últimos meses, quando duas renomadas entidades norte-americanas divulgaram suas novas diretrizes sobre o tema, com diferenças importantes entre si.

Em outubro, a Sociedade Americana do Câncer passou a indicar que as mulheres façam mamografia anualmente a partir dos 45 anos. As que têm mais de 54 devem fazer o exame a cada dois anos, enquanto forem saudáveis e tiverem uma expectativa de vida superior a dez anos. Em janeiro deste ano, foi a vez de a US Preventive Task Force divulgar suas recomendações. E a orientação da entidade é que a mamografia de rotina comece a ser realizada mais tarde, a partir dos 50 anos, e seja repetida a cada dois anos até os 74. Vale destacar que, para elaborar suas diretrizes, ambas lidaram com os mesmos dados. O que muda é a forma de interpretá-los, afirma o médico Ruffo de Freitas Junior, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia. “A grande questão é que tipo de informação ganha mais peso para cada um.”

Vantagens e desvantagens das diferentes diretrizes

Nesse sentido, um dos pontos mais polêmicos se refere ao custo-benefício de descobrir (e tratar) um tipo específico de lesão que pode surgir nas mamas, chamado carcinoma in situ. Essas lesões são detectadas por meio da mamografia, principalmente entre mulheres de 40 a 50 anos, e cerca de metade deles evoluirão para câncer. Mas a ciência ainda não é capaz de diferenciar as lesões perigosas daquelas que não trarão maiores consequências. Vale a pena diagnosticar e tratar todas essas lesões? Quais as vantagens e desvantagens dessa intervenção? É essa a questão por trás das diferenças entre cada diretriz.

“Grupos que defendem que a mamografia de rotina ocorra após os 50, como a US Preventive Task Force, afirmam que, em mulheres mais jovens, o benefício da redução de mortalidade por câncer de mama não é tão grande quanto a possibilidade de detectar carcinomas in situ que, eventualmente, não precisariam de tratamento. E isso levaria a fazer biópsias desnecessárias em mulheres que não teriam nada”, afirma o Dr. Ruffo de Freitas Junior. É o que se chama de “overdiagnosis” e “overtreatment” (diagnóstico e tratamento em excesso).

De modo geral, uma paciente diagnosticada com carcinoma in situ passa por uma pequena cirurgia, para retirada de um segmento da mama e, às vezes, de uma íngua. A partir daí, é submetida à radioterapia e recebe uma medicação por cinco anos. Ou seja, há um impacto físico, emocional e financeiro que, para parte das mulheres atendidas, seria desnecessário. A proposta desses grupos é, portanto, centralizar as mamografias nas mulheres mais velhas, quando a incidência do câncer de mama é maior.

Já os grupos que defendem a realização da mamografia mais cedo, após os 40 ou 45 anos de idade, acreditam que os ganhos obtidos com o rastreamento precoce superam as perdas decorrentes de “overdiagnosis” e “overtreatment”. “Ainda que não seja tão grande, o benefício na redução de mortalidade existe”, afirma Dr. Freitas Junior. Ele explica que, após passar pelo tratamento de carcinoma in situ, a chance de a mulher não ter câncer de mama é de 98%. “Ainda assim, duas em cada cem morrerão devido a uma recidiva do tumor em um período de dez anos”, afirma. “Se porventura nós deixarmos esse carcinoma in situ se tornar câncer, essas mulheres terão que passar por cirurgia e radioterapia. Metade delas farão quimioterapia e 25% delas farão uma terapia biológica, e cada aplicação custa R$ 10 mil.” O maior custo, claro, é a morte de muitas dessas pacientes. No Brasil, duas em cada dez mulheres diagnósticas com câncer de mama morrem devido à doença.

Diretizes brasileiras

Embora essas novas diretrizes se apliquem apenas aos Estados Unidos, elas acabam exercendo influência em outros países, incluindo o Brasil. Por aqui, já existe uma divergência entre a orientação do Inca (Instituto Nacional do Câncer), que recomenda a mamografia de rotina após os 50 anos, e as Sociedades Brasileiras de Mastologia e do Colégio Brasileiro de Radiologia, que indicam o exame para mulheres a partir dos 40 anos de idade.

Mas, ao transpor a discussão para nossa realidade, é importante ter em mente algumas diferenças importantes em relação ao cenário americano. Lá, a taxa de detecção de carcinoma in situ é de 20% a 30%, afirma o Dr. Freitas Junior. Bem maior, portanto, que a brasileira, que está em torno de 8%. Outro aspecto relevante é que temos no Brasil mais casos de câncer de mama na faixa dos 40 a 50 anos do que nos Estados Unidos. Lá, entre 12% e 13% dos casos ocorre nessa faixa etária. No Brasil, chega a 25%. Ou seja: uma em cada quatro mulheres diagnosticadas com câncer de mama tem entre 40 e 50 anos.

Ainda segundo o Dr. Freitas Junior, é importante levar em conta a diferença na qualidade no exame obtida em cada país. Se nos Estados Unidos a preocupação já é com o risco de “overdiagnosis”, por aqui, a baixa qualidade de muitas mamografias está associada ao risco oposto, de não detecção de lesões existentes. Ele cita um estudo em Goiânia que mostrou que 70% das mamografias realizadas eram inadequadas – número que caiu para 2% após participação no programa nacional de controle de qualidade em mamografias.

Questões genéticas afetam a distribuição do câncer de mama na população. De acordo com o Dr. Freitas Junior, a doença é mais comum em mulheres brancas, mas costuma ser mais agressiva em mulheres negras. E é praticamente inexistente entre indígenas. O estilo de vida também tem um papel de peso no desenvolvimento da doença. Segundo o Inca, é possível reduzir o risco de câncer de mama em até 28% por meio de alimentação adequada e atividades físicas. A previsão do órgão é de que 58 mil mulheres sejam diagnosticadas com câncer de mama ao longo deste ano, no Brasil.

Publicado em Galileu em 05/02/2016

A Femama recomenda a realização anual da mamografia a partir dos 40 anos e defende que essa diretriz seja adotada pelo sistema público de saúde no Brasil, em cumprimento à Lei Federal 11.664/2008, que determina o direito à realização de exame mamográfico para todas as mulheres a partir dos 40 anos de idade. Saiba mais sobre quem pode hoje realizar o exame na rede pública.

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