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Rio é estado que menos cumpre lei para tratar câncer de mama

Em março do ano passado, Fabiana Motta Medeiros, de 41 anos, sentiu um caroço na mama, mas a mamografia feita numa clínica particular nada apontou. Depois de muito insistir, uma amiga que trabalhava na área médica ajudou que uma biópsia fosse marcada no Rio Imagem, no Centro do Rio. Em novembro, ela recebeu um diagnóstico e uma recomendação: câncer de mama e o tratamento deveria começar rápido. Mas, ao ser encaminhada para o Instituto Nacional de Câncer (Inca), em janeiro, teve que refazer todos os exames que levara do centro de imagens do governo estadual. A primeira sessão de quimioterapia só aconteceu em fevereiro, 80 dias após o diagnóstico.

Essa espera, que costuma ser ainda mais longa quando a primeira etapa do tratamento é cirúrgica, colocou o Rio de Janeiro numa ingrata posição: é o estado do país que menos cumpre a Lei dos 60 dias para mulheres com câncer de mama, de acordo com a base de dados Registros Hospitalares de Câncer, do Ministério da Saúde.

A Lei dos 60 dias, aprovada em 2012, determina que o período entre o diagnóstico do câncer, confirmado com a biópsia, e o início do tratamento — quimioterapia, radioterapia ou cirurgia — não pode ser superior a 60 dias.

A base de dados do ministério revela que, entre 2013 e 2017, apenas 10,7% das pacientes que realizaram biópsia em tumores na mama sem estarem internadas conseguiram iniciar o tratamento no período determinado pela lei. A média nacional é 40,6%, sendo que o tempo médio de espera é 125 dias.

Entre as pacientes que realizam a biópsia internadas, 52,5% conseguem iniciar o tratamento em 60 dias após o diagnóstico. Ainda assim, o estado do Rio, onde está sediado o Instituto Nacional de Câncer, tem o quarto pior resultado do país, cuja média nacional é 64,8%.

Resultados estão abaixo da média

Os dados dos Registros Hospitalares de Câncer mostram ainda que, quando o tumor é diagnosticado em estágio inicial — o que acontece em apenas em 42%, segundo dados do Rio Imagem — a situação da paciente com câncer de mama é ainda mais dramática no estado do Rio. Nesses casos, quando as chances de a mulher vencer a doença são maiores, apenas 5,8% delas iniciam o tratamento antes de 60 dias, o pior resultado do país. A média nacional é 35,5%, com média de espera de 134 dias.

Entre as que foram diagnosticadas em estágio avançado da doença — mais de 50% dos casos — somente 15,6% começaram o tratamento no prazo determinado pela lei no estado do Rio, que também está na pior colocação nacional para esse grupo de pacientes. A média nacional é 49%, com tempo médio de espera de 113 dias.

— Para pacientes com tumores em estágio inicial, que costumam começar o tratamento com cirurgia, cumpre-se menos a lei do que no caso das pacientes que estão com estadiamento mais avançado e precisam iniciar com quimioterapia. Isso ocorre devido às filas de cirurgia por déficit de profissionais e insumos. Mas, em todos os cenários, o Rio de Janeiro é sempre um dos piores estados ou o pior para o cumprimento da lei — afirma a mastologista Sandra Gioia, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia.

A médica ressalta que, apesar das Diretrizes de Detecção Precoce para Câncer de Mama do Ministério da Saúde, em todo o país, mais de 50% dos casos são diagnosticados em estadiamento avançado:

— E, em vez de as barreiras para o cumprimento da Lei dos 60 dias serem conhecidas e eliminadas, observamos, de Norte a Sul, a lei sendo ignorada. Temos que repensar o cuidado centrado nas pacientes, pois muitas vidas estão sendo ceifadas por uma doença com potencial de cura.

As respostas

O Inca informou que o tempo médio de espera para a realização de cirurgia de câncer de mama é de 45 dias para pacientes com doença inicial e que não tenham outras doenças que impeçam a operação. Buscando reduzir o tempo de espera, reabriu salas de quimioterapia aos fins de semana e recebeu mais um mastologista.

O Ministério da Saúde afirmou que, em seis anos, mais que dobrou os recursos destinados aos tratamentos do câncer, passando de R$ 2,2 bilhões, em 2010, para R$ 5 bilhões, em 2018.

A Secretaria estadual de Saúde informou que o tempo médio de espera entre a inserção do paciente no Sistema Estadual de Regulação e a consulta com mastologista é menor que 30 dias. Em 2018, o Rio Imagem realizou 35 mil mamografias. Disponibiliza nove mamógrafos para dar suporte aos municípios.

A Secretaria municipal de Saúde, a quem cabe o diagnóstico, afirmou que o tempo médio de espera para consulta com mastologista é de 17 dias. Já a mamografia pode ser marcada para o dia seguinte e a biópsia por agulha, para 20 a 30 dias.

 

Fonte: Jornal Extra, 10/05/19

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